Você sabe quais são as principais queixas que os pais e cuidadores levam aos consultórios pediátricos? Será que a dúvida ou angústia de muitas famílias é a mesma que a da sua?
Neste artigo, a equipe do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA), coordenada pelo pediatra e nutrólogo, Dr. Mauro Fisberg, reuniu três pontos que rotineiramente aparecem nas consultas das crianças.
Por Mauro Fisberg*
25/04/2024
“Meu filho(a) é muito seletivo(a) para comer”
A criança muito exigente na escolha dos alimentos pode ser motivo de preocupação e conflito nas relações familiares. Essa rigorosa seleção de alimentos pode ser resultado de um conjunto de fatores que incluem: as preferências inatas da criança e a diversidade de alimentos da rotina alimentar, somadas às habilidades para lidar com as diferentes cores, texturas e sabores que os alimentos oferecem.
O modo como os pais e cuidadores lidam com esta seleção alimentar no dia a dia, refeição após refeição, também pode influenciar as preferências da criança para escolher mais um alimento do que outro. É comum que muitos cuidadores “desistam” de oferecer alimentos variados diariamente, pois se frustram com a recusa, principalmente de frutas, verduras e legumes.
A principal orientação é buscar resiliência para passar por este período desafiador, mantendo o cardápio variado (incluindo alimentos de todos os grupos) e a exposição e a oferta dos alimentos mais recusados, como verduras, legumes e frutas.
Algumas crianças ficam anos recusando determinados alimentos e, somente em fases mais maduras da vida, decidem comer voluntariamente, estimuladas por outras motivações. Outras, até mesmo na fase adulta, seguem muito seletivas e restritivas quanto a sua própria alimentação. Nos casos persistentes, a avaliação nutricional realizada pelo(a) nutricionista é fundamental para a prevenção de doenças causadas pela falta ou excesso de nutrientes na alimentação.
“Como tratar a constipação intestinal?”
O tratamento da constipação intestinal na infância é desafiador e complexo, tanto para a criança quanto para a sua família. Por ser uma condição multifatorial, exige modificações em várias dimensões da vida da criança, além de tempo, persistência e paciência!
A abordagem é baseada em três pilares principais: o tratamento farmacológico, o tratamento dietético e o treinamento de toalete.
O tratamento farmacológico é realizado com medicamentos laxativos, sendo alguns exemplos no nosso meio o polietilenoglicol (PEG), a lactulona e o óleo mineral.
O tratamento dietético envolve o consumo regular de fibras, que estão presentes em frutas, verduras, legumes e alimentos integrais, aliados à ingestão da quantidade de água recomendada para cada faixa etária.
Já o treinamento de toalete é uma parte crucial para o sucesso do tratamento, podendo contribuir de forma significativa para a melhora do comportamento de retenção fecal. Envolve uma série de estratégias focadas em promover idas regulares ao banheiro, oferecendo oportunidades encorajadoras para a criança habituar-se a evacuar em ambiente, postura e frequência adequados.
Um dos principais desafios que as famílias de crianças e adolescentes com constipação intestinal encontram é a necessidade de manutenção a médio e longo prazo dessa abordagem que combina medicamento, dieta e treinamento de toalete. Geralmente, é necessário manter o tratamento por quatro a seis meses para que eles conquistem autonomia para uso do toalete e independência da medicação laxativa.
A interrupção precoce do tratamento pode estar relacionada à crença de que os laxantes podem “viciar o intestino”, tornando-o preguiçoso e dependente. Entretanto, o uso prolongado dessas medicações é comprovadamente seguro na faixa etária pediátrica, desde que prescrito e monitorado pelo médico da criança.
“Mastigação: meu filho(a) não aceita novas texturas, consistências e sabores”
Quando a criança apresenta recusa ou dificuldade em comer certos alimentos, é muito comum que as famílias cheguem ao consultório com dúvidas e preocupações sobre a mastigação. Ao perceberem que a criança está recusando alguns alimentos pela sua textura ou pela necessidade de mastigação, é frequente que os pais realizem tentativas de escondê-los em preparações que são mais facilmente aceitas pela criança, ou ainda, que deixem de oferecê-los no momento das refeições, já que existe pouca ou nenhuma aceitação.
De fato, aceitar uma alimentação variada ao longo da fase de introdução alimentar exige da criança o aprendizado de diferentes movimentos de mastigação. Carnes, verduras, legumes, frutas e alimentos cozidos e fibrosos são uma explosão de experiências sensoriais e fornecem à criança informações diferentes quanto as texturas, consistência e sabor, o que influencia diretamente na forma como ela irá se aproximar destes alimentos e levá-los à boca de maneira confortável.
Permitir que a criança possa explorar os alimentos oferecidos a partir da sua vontade, curiosidade e no seu ritmo, favorecem um ambiente naturalmente cheio de possibilidades para que ela exercite sua mastigação, sempre de maneira tranquila, feliz e prazerosa. Pegar com as mãozinhas e, mais tarde, com ajuda de um utensílio (aqui vale qualquer garfinho e colher em tamanho proporcional à boca da criança), chupar e depois cuspir, apertar e amassar com as gengivas e movimentar a língua em diferentes planos e direções ao levar os alimentos à boca são partes importantes deste caminho de aprendizagem.
A exposição e a apresentação repetida dos alimentos também garantem à criança possibilidades em evoluir de maneira gradativa, tanto nas habilidades de mastigação quanto na aceitação dos alimentos, isto porque oferecem oportunidades para que a criança conheça, aos poucos, os alimentos e estabeleça sozinha suas preferências.
Artigo com colaboração das nutricionistas Priscila Maximino e Raquel Ricci, da pediatra e gastroenterologista Dra. Nathalia Gioia e da fonoaudióloga Karina Rizzardo.
* Mauro Fisberg Pediatra e Nutrólogo (CRM 28119 RQE 3935 E 37146). Coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI. Professor Associado Doutor Sênior do Setor de Medicina do Adolescente - Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
Fonte: Instituto PENSI
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